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terça-feira, setembro 30, 2003

Hipocrisia à beira-mar plantada

A propósito da marcha contra a pedofilia, apelidada de «Nódoa Branca», tenho a dizer que foi mais uma grande demonstração de hipocrisia dos portugueses. Primeiro não é por uma pessoa se vestir de branco que está contra a pedofilia. Depois não é com manifestações destas que a pedofilia desaparece. Ela existe e está bem enraizada na nossa sociedade, como os inúmeros casos vindos a público demonstram. O incrível é que as pessoas só se queixem agora. Quantas histórias as pessoas das terras conhecem de filhos e filhas que foram violados/as pelos vizinhos, quando não eram os parentes a fazê-lo? Essas não interessam. Não têm peso mediático. Querem-me fazer acreditar que a pedofilia é exclusivo da Casa Pia e outras instituições do género! Então e o escândalo em Boston, que envolveu padres, um suicídio e o silêncio das vítimas comprado ao milhão de dólares cada?! O problema é que o português é um ser de tabus. Evita tudo o que é mau, até a merda lhe rebentar toda na cara. Rebentou. Agora limpem-na, nem que seja para fazer uma nódoa branca.

segunda-feira, setembro 29, 2003

Nódoa Branca

Foi no que se tornou a suposta marcha contra a pedófilia. Contra a pedófilia, mas a favor da castração, da prisão perpétua, da pena de morte. Lamentável! Tão lamentável quanto certos editoriais: “os milhares de pessoas que desfilaram em Lisboa, Porto, Braga e Portimão mostraram o que os portugueses esperam dos poderes deste país. Numa palavra, justiça.” (A Capital, 28/09/03) Nada mais errado. Os portugueses que desfilaram pelas cidades deste país esperam outra coisa do poder: sangue, vingança, “olho por olho, dente por dente”.

Mau grado a comparação, estas manifestações populares fazem sempre lembrar-me a famosa cena do governador romano que, cedendo aos apelos cegos da multidão, lavou daí as suas mãos.

Apressadamente, alguns políticos em congresso repetem o gesto. Nada de novo, portanto.

Eco Ponto

sábado, setembro 27, 2003

O regresso

Meus amigos, volto aqui a este espaço depois de uma curta ausência para dar o nó e gozar umas merecidas férias nas Caraíbas. Ainda estou a mecanizar pensamentos para colocar aqui mais umas farpas. Cheira-me que o próximo post vai ser acerca das chefias de merdas que podemos encontrar em algumas empresas deste país.

quinta-feira, setembro 04, 2003



A república da treta

Francisco José Viegas, a Agatha Christie da literatura portuguesa, assina hoje, no Jornal de Notícias, um artigo de opinião intitulado As duas repúblicas. O tema é o mal cheiroso “processo da Casa Pia” que, há falta de melhor, vai dando para alimentar a pena de quem não tem nada para dizer.

Aqui fica o muito do nada que Francisco diz:

“A confiança que os portugueses podiam depositar nos tribunais está a ser ameaçada pelos desenvolvimentos do processo Casa Pia”

Está? Quem mediu este índice de confiança? Quais os critérios utilizados? Não acredites em tudo aquilo que lês, Francisco.

“A chegada ao jornalismo de uma geração de licenciados em Direito, familiarizados com a linguagem dos juristas, dos processos e dos códigos, também não foi capaz de aproximar esses dois mundos [o dos cidadãos e o das instituições]”

Também não é essa a função deles. Aos jornalistas compete informar. Parece-me que há nessa cabeça uma ligeira confusão.

“Os cidadãos desconfiam naturalmente [da justiça]. São portugueses.”

Ficámos todos a saber que faz parte da nossa natureza, enquanto portugueses, sermos desconfiados. Obrigado, meu Deus, por não me teres feito espanhol!

“Com uma imprensa que tomou a seu cargo a denúncia e a perseguição a suspeitos e a indiciados, o ‘tribunal da opinião pública’ transformou-se numa arena de alarvidades e de retrocessos morais.”

Pelo vistos não és apenas tu, Francisco, que esqueces que a função de um jornalista é informar. Infelizmente, esses jovens licenciados em Direito estão mais preocupados em vender jornais e esquecem-se, quase sempre, que há toda uma diferença entre informar e denunciar. Assim, passam de jornalistas a jornaleiros e de jornaleiros a justiceiros. É sempre a descer.

“A frieza e a distância com que o processo da Casa Pia deve ser analisado esbarram nesse sentido da multidão quer castigo para o crime, uma espécie de satisfação moral e física pelo dano que foi causado.”

A palavra aqui, Francisco, não é “analisado” mas “julgado”. Experimenta trocar. Fica melhor, não fica?

“(...) é também evidente que este processo representa o mais duro golpe sobre a confiança dos portugueses neles próprios – pelos nomes nele envolvidos, pelos crimes de que são indiciados, pela forma como a informação e contra-informação aparecem misturadas de modo a servir este ou aquele interesse.”

Não, Francisco, não... se há coisa que este processo representa é o mau jornalismo que se faz em Portugal. É por isso que há tanta informação e contra-informação. E deixa-me que te diga que, enquanto português, contínuo a manter a confiança em mim próprio. Este processo não mudou nada relativamente à minha autoconfiança. E não sou o único. Conheço uns quantos portugueses que, apesar de tudo, também continua a ter confiança neles próprios. Mais uma vez, Francisco, não reproduzas tudo aquilo que lês.

“Ao olhar-se ao espelho, o país verificou que a sua imagem não seria, daí em diante, senão uma pálida representação desse Portugal de outros tempos, pacificado e cheio de sensatez e de bons costumes.”

Mais uma mentira que de tão repetida já ganhou o estatuto de verdade. Portugal é um país de costumes tão brandos como outro país qualquer. Em Portugal sempre houve – e certamente continuará a haver – pedófilos, prostitutas, homossexuais, maridos que traem as mulheres, mulheres que trem os maridos, casos de incesto e de violação, roubos, crimes de sangue, etc., etc., etc. (desculpem estar a pôr tudo no mesmo saco). Que Portugal de brandos costumes é esse? É o Portugal dos autos-de-fé? Das perseguições aos judeus? Dos que matam pretos a pontapé? È o Portugal das milícias populares ou aquele que todos os anos vem mencionado nos relatórios da Amnistia Internacional? Esse Portugal de brandos costumes, Francisco, só existe em mentes delirantes. E depois, mal seria se um crime qualquer, por mais horrendo que ele possa ser, pusesse em causa a identidade nacional ao ponto do país não se reconhecer ao espelho.


Eco Ponto



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